Curva ABC: o que é e como calcular?

Se você tem uma empresa, provavelmente já percebeu que uma das coisas mais importantes para o sucesso do seu negócio é o fluxo de caixa positivo no final do mês. Uma das formas de garantir esse controle é por meio da Curva ABC ou Classificação ABC.

Esse é um método antigo, que permite descomplicar e manter controle dos seus produtos e estoques para planejar os próximos passos.

Quer saber mais sobre? Continue lendo o artigo.

O que é a Curva ABC?

A Curva ABC é um método que define a prioridade de um produto sobre outro, analisando sua importância, impacto, ou demanda. No planejamento de estoque, a Curva ABC serve para indicar quanto precisa ser estocado, qual o faturamento esperado e onde focar.

Agora, você deve estar se perguntando, o que significa a sigla ABC? O nome “Curva ABC” se refere as três categorias ou classificações desse método:

  • Categoria A: Produtos de maior valor, com maior faturamento;
  • Categoria B: Produtos de médio valor, com médio faturamento;
  • Categoria C: Produtos de menor valor, com menor faturamento.

Normalmente, os produtos de maior valor são os que têm maior demanda e estão, ou devem estar, em menor quantidade. O mesmo funciona ao contrário. Isso é explicado de forma mais exata pelo Princípio de Pareto.

O que é o princípio de Pareto?

Uma forma mais matemática de explicar a Curva ABC é através do Princípio de Pareto.

Segundo Vilfred Pareto, em termos gerais, 80% dos resultados vêm de 20% das causas. Ou seja, se aplicado aos lucros de uma empresa, 80% deles foram causados por apenas 20% dos fatores. 

Sob essa ótica, ao usarmos a classificação ABC para gerir estoques, estamos dizendo que 80% do faturamento vêm de 20% dos produtos, em média.

Qual a regra da Curva ABC? Como funciona a classificação?

A Curva ABC é uma forma de segmentar e facilitar a análise da técnica 80-20, ou seja, do princípio de pareto.  Assim, a classificação funciona de acordo com a seguinte lógica:

  • A: 80% do valor vêm de 20% dos produtos;
  • B: 15% do valor vêm de 30% dos produtos;
  • C: 5% do valor vêm de 50% dos produtos.

Parece complicado, mas veja da seguinte forma: para que seu estoque seja eficiente e haja menos desperdício, grande parte do seu faturamento deve partir de produtos estocados em menor quantidade, bem como funciona a lógica inversa. 

Caso queira se aprofundar mais nesse princípio, confira nosso artigo sobre Gráfico de Pareto e sua construção, na prática.

Curva ABC: exemplo prático

Para entender o que é a Curva ABC em uma empresa, considere o caso de uma oficina mecânica especializada em veículos de passeio, que realiza serviços de reparação e vende peças sobressalentes.

Ao aplicar a curva ABC de estoque, considerando um faturamento anual de R$ 500 mil, o gestor da oficina obteve os seguintes resultados:

Classificação A: Motores e caixas de câmbio. Faturamento de R$ 350 mil/ano.
Classificação B: Amortecedores, pastilhas de freio e sistemas de escapamento. Faturamento de R$ 100 mil/ano.
Classificação C: Produtos como filtros, fluidos e lubrificantes. Faturamento de R$ 50 mil/ano.

Nesse cenário, é possível classificar o estoque da seguinte forma:

  • A: Itens de alto valor, que geram a maior parte do faturamento, mas apresentam menor giro no estoque, demandando cuidado com o planejamento de compras para evitar excesso.
  • B: Peças com preço e demanda intermediários, geralmente requisitadas em manutenções periódicas.
  • C: Produtos de consumo rápido, como fluidos e filtros, que precisam ser mantidos em maior quantidade devido ao giro elevado, apesar de seu menor impacto no faturamento total.

Com o desenho dessa Curva ABC, o gestor da oficina estará melhor orientado para evitar desperdícios, garantir o estoque adequado, priorizar os clientes e aumentar a eficiência operacional do negócio. 

Exemplo de curva ABC na gestão de compras e fornecedores

A Curva ABC pode ser muito útil para o setor de compras. Imagine, por exemplo, uma indústria moveleira, que trabalha com diferentes tipos de insumos para fazer a produção de móveis planejados. . 

Nesse contexto específico, a classificação ABC das matérias-primas a serem compradas seria: 

A: Chapas de MDF e ferragens específicas. Valores em torno de R$ 1,400 milhão/ano.
B: Tintas, vernizes e puxadores. Cerca de R$ 400 mil/ano.
C: Parafusos, buchas e outros itens menores. Por volta de R$ 200 mil/ano.

Com essa análise, a gestão dos fornecedores e do processo de comprar seria pautada pelo entendimento de que: 

  • A: São insumos de alto valor unitário, fundamentais para a produção, mas que, quando em excesso, podem gerar custos elevados e ocupar muito espaço de armazenamento.
  • B: Itens com preço médio e demanda intermediária, usados frequentemente, mas com menor volume e menor custo. 
  • C: Materiais de baixo custo e alta rotatividade, geralmente adquiridos em grandes quantidades, contudo, exigem controle já que sua falta pode paralisar a produção de móveis

No exemplo acima, a Curva ABC vai orientar aspectos como a relação com fornecedores, a negociação de preços, a organização dos itens no estoque, a frequência ou periodicidade de aquisição, entre outros aspectos. 

Exemplo de curva ABC na gestão de estoque de farmácia ou estoque hospitalar

A gestão de estoque hospitalares ou farmacêuticos é extremamente delicada, já que combina fatores como:

  • riscos severos à vida, em caso de ausência de algum item do estoque;
  • itens com prazos de validade curtos ou restritos;
  • convivência de itens de perfil muito distinto, como medicamentos pioneiros e de alto valor, com insumos ou acessórios que custam centavos. 

Por isso, são muitos os acadêmicos e pesquisadores que já se dedicaram a estudar como a curva ABC pode se aplicar nesse segmento econômico. Para tornar mais tangível, vamos imaginar o exemplo de um hospital com custo anual de R$ 1 milhão em medicamentos.  A classificação ABC, nesse caso, poderia ser:

  • A: Medicamentos de alto custo, representando aproximadamente 20% dos itens em estoque, mas correspondendo a cerca de 80% do valor total investido. Nesta categoria, estariam, por exemplo, antibióticos de última geração e fornecimento restrito, ou tratamentos para doenças raras. 
  • B: Medicamentos de custo e criticidade intermediários, constituindo cerca de 30% dos itens e representando aproximadamente 15% do valor total do estoque. Medicamentos hipertensivos, analgésicos com novas tecnologias e itens similares entrariam aqui. 
  • C: Medicamentos de baixo custo e menor criticidade, correspondendo a 50% dos itens em estoque, mas apenas 5% do valor total investido. Vitamina e soro fisiológico são alguns dos exemplos. 

Exemplo de curva ABC em obra

Por fim, trazemos mais um exemplo de área em que a curva a ABC é muito usada: a Construção Civil. 

Nesse universo, a Curva ABC da obra é utilizada como um mecanismo não apenas para determinar o que precisa ser mantido em estoque, mas também qual será o processo de contratação de cada tipo de material. 

Enquanto itens da classificação A, como concreto, aço e fundações, por terem um custo mais significativo, podem exigir procedimentos de cotação e contratação mais complexo. Os contratos mais robustos e a negociação de preços será determinante para a viabilidade financeira da obra. 

Já os itens da categoria C vão requerer um processo de compra mais ágil, sem perder o rigor no que diz respeito à qualidade dos insumos. Processos de controle de estoque serão necessários para evitar desvios e garantir a disponibilidade desses itens – que incluem ferramentas, pregos, parafusos, equipamentos de baixo custo, e assim por diante. 

A depender do perfil da edificação, a classificação B da Curva ABC da obra poderá incluir diferentes insumos, como itens de climatização, fiação e encanamento.Evidentemente, eles serão fundamentais para a entrega da obra. 

Contudo, diferentemente dos demais níveis, os itens da categoria B não têm um peso financeiro tão grande quanto os de nível A, nem precisarão ser comprados em grande volume. Assim, espera-se que a gestão desse tipo de insumo seja menos delicada.

Como fazer o cálculo da Curva ABC?

A Curva ABC pode ser desenvolvida em programas como o Excel, por meio de planilhas prontas, ou então, em sistemas ERP, por meio do envio de algumas informações. Independentemente da ferramenta de Curva ABC escolhida, três passos serão essenciais.

1. Colete e organize os dados para fazer a Curva ABC

Você vai precisar das seguintes informações de estoque:

  1. Especificidades do produto: nome, quantidade e valor unitário;
  2. Valor total de cada produto: multiplicação do valor unitário pela quantidade de produtos;
  3. Valor total acumulado dos produtos;
  4. Porcentagem dos valores: deve-se gerar a porcentagem total de cada produto e do total acumulado;

2. Calcule em qual classificação cada tipo de produto se encontra

Com os dados acima coletados, será possível classificar quais produtos pertencerão às categorias A, B e C, bem como dividi-los em zonas para facilitar a visualização. Essas informações podem soar muito abstratas à primeira vista, então vamos a um exemplo:

  • Se seu faturamento mensal for de R$ 400 mil, e o produto X representar R$ 98 mil desse faturamento, qual seria sua contribuição para o total?

Para isso, basta fazer uma regra de 3, onde 400 corresponde a 100% e 98 corresponde à Y. Multiplicando, vemos que Y = 24,5.

Logo, o produto X tem uma contribuição de 24,5% no faturamento total

Realizando esse mesmo cálculo com os demais produtos, é possível estabelecer quais pertencem às categorias A, B ou C.

Gere o gráfico de Curva ABC e crie uma rotina de acompanhamento

Se você está usando uma planilha para registrar os dados e cálculos da etapa anterior, agora é hora de gerar o gráfico ABC. No eixo Y, que é vertical, deve constar o valor monetário (de custo ou faturamento gerado). Já no eixo X, horizontal, constará a porcentagem que os itens representam no estoque. 

Por outro lado, se você está usando um recurso mais avançado, como um sistema de gestão ou ERP, é provável que esse gráfico faça parte dos relatórios-padrão do software. Neste caso, sua preocupação deve ser alimentar corretamente o sistema, para que o gráfico esteja correto. 

Ainda confuso(a)? Acompanhe, na próxima seção, como ler um gráfico de Curva ABC. 

Como interpretar um gráfico Curva ABC?

O gráfico de curva ABC tem dois eixos. No vertical, vemos o percentual representado pelos produtos no faturamento da empresa ou, em alguns casos, o custo representado por eles. O importante é entender que esse eixo estará atrelado a algum valor monetário. 

Já no eixo horizontal (X), teremos um percentual indicando o volume de itens. Numa curva ABC de estoque, por exemplo, teremos então o volume de itens em estoque. 

Com isso em mente, é hora de ler o gráfico (imagem abaixo), olhando para o eixo horizontal (X) e considerando que: 

  • A zona entre 0 e 20% do eixo horizontal é a classificação A;
  • A zona entre 20% e 50% representar a classificação B;
  • A zona entre 50% e 100% indica itens de classificação C.
exemplo de curva abc e como interpretar a classificação ABC

Para que serve a Curva ABC?

A Curva ABC é um método prático de organizar os serviços ou produtos de uma empresa, como marketing ou estoque. Vamos usar este último como exemplo. 

Para que sua receita esteja positiva no final do mês, é necessário que você tenha gerado lucro, certo? Mas isso não pode ser feito sem um controle de produtos que evite desperdícios e prejuízos. 

Compreendendo quais produtos vendem mais ou menos, bem como os que geram maior ou menor faturamento, você pode:

  • Planejar seu estoque: acompanhe a vida mercadológica dos produtos num âmbito mais geral, analisando temas como monitoramento de mercado, impostos, fornecedores, taxações, etc.
  • Planejar suas vendas: Se determinado produto não gera tanto lucro, é possível poupar esforços da equipe para vendê-lo e, ainda, transferir esse esforço para o estímulo dos clientes à compra daqueles mais lucrativos.

Além disso, é possível fazer a análise da Curva de forma periódica, possibilitando maior orientação para balanços semestrais, que são mais complexos, ou até mesmo completar análises de indicadores operacionais gerais, também feitos periodicamente.

Quais são os benefícios de utilizar a Curva ABC?

Utilizar a Curva ABC na sua gestão tem inúmeros benefícios. Dentre eles, estão:

Aumento da lucratividade 

Esse tipo de monitoramento te permite enxergar melhor a conhecida oferta e demanda. 

Com isso, você aumenta sua lucratividade, uma vez que, toma decisões mais assertivas, especialmente pela facilidade em perceber quando está na hora de aumentar o preço ou a produção de algum produto. 

Além disso, a previsibilidade das vendas facilita na organização financeira, garantindo uma operação sem prejuízos. 

Mais investimentos e ROI

Ainda falando sobre a previsão de vendas, decisões mais assertivas e organização financeira, a Curva ABC permite que você identifique quais investimentos são necessários na sua operação, seja aumentar o número de funcionários, investir em ferramentas ou ainda, melhorar a qualidade de algum produto. 

Também é por meio desta que você consegue definir o Retorno sobre o Investimento (ROI) do seu negócio. 

Diminuição de desperdício

O desperdício de materiais é ruim, para o financeiro da empresa, para o meio ambiente e para a imagem do negócio.

Atualmente, os consumidores se preocupam cada vez mais com o que estão consumindo. Empresas que se preocupam com pautas sociais, inclusive, tem sido preferidas por cidadãos de diversas idades. 

Utilizando a Curva ABC você produz sob demanda, reduzindo consideravelmente a produção e também o estoque com sobras.

Como os clientes se organizam na Lei de Pareto?

Para fazer uma análise ainda mais completa de como seus produtos se movimentam, podemos analisar o comportamento de seus consumidores.

Seguindo a mesma linha de raciocínio da segmentação dos produtos, Pareto classifica os consumidores em categorias:

  • Clientes A: representam até 80% das vendas;
  • Clientes B: representam até 15% das vendas;
  • Clientes C: representam até 5% das vendas.

Os fatores utilizados nessa categorização podem variar entre a quantidade e a frequência com a qual aqueles clientes compram, até a faixa de preço dos produtos que eles costumam comprar. 

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Perguntas frequentes sobre o assunto

Como calcular Curva ABC?

Para calcular a Curva ABC é bem simples. Por exemplo, seu faturamento mensal é de R$400mil. O produto x representa R$98mil desse faturamento. Para isso, basta fazer uma regra de 3, onde 400 corresponde a 100% e 98 corresponde à Y. Multiplicando, vemos que Y = 24,5%. Logo, o produto X tem uma contribuição de 24,5% no faturamento total. Assim, é possível verificar em qual das classificações da Curva ele se encontra. E assim por diante.

Como é feita a classificação da Curva ABC?

A classificação da Curva ABC é a seguinte: 
A: Produtos (ou clientes) de maior valor. Representam 80% das vendas;
B: Produtos de médio valor, com médio faturamento; representam até 15% das vendas;
C: Produtos de menor valor, com menor faturamento; representam até 5% das vendas.

Onde é aplicada a Curva ABC?

A Curva ABC pode ser aplicada para controle de estoque ou clientes em uma empresa. 

O que é curva ABC de estoque?

A curva ABC de estoque nada mais é que a aplicação do método de priorização chamado curva ABC para identificar e classificar os produtos e insumos em estoque de acordo com a representatividade deles, em volume e impacto no faturamento. Assim, é possível otimizar a gestão do estoque, criando procedimentos de compra e gerenciamento para cada nível de produto.

Qual a importância da curva abc na gestão de estoques?

A Curva ABC evita excedentes e ociosidade de estoque, colabora na manutenção do fluxo de caixa e saúde financeira do negócio e aumenta a eficiência operacional da empresa.

Ajuda para fazer curva ABC e planejamento financeiro

E aí? Conseguiu entender um pouco mais sobre a Curva ABC e como ela pode ajudar a planejar seu negócio? Se quiser aprender sobre outros métodos de análise financeira, confira mais artigos do nosso blog!

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1 comentário

Steffany · 19/10/2023 às 21:55

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